Início Cultura Ballet Tradicional Kilandukilu – Crise afeta o grupo mais premiado de África

Ballet Tradicional Kilandukilu – Crise afeta o grupo mais premiado de África

por Redação

Nas décadas de 80 e 90, como que grassou pelo país uma verdadeira “febre” de dança. Por to do lado surgiram grupos de jovens que se dedicavam com espírito criativo e artístico à dança. Era uma alegria só vista. Havia espetáculos e estilos para todos gostos. Os criadores não ficavam só pelo urbano, bebiam do tradicional e criavam peças maravilhosas, mas também não faltavam diversos estilos internacionais que estavam na moda. Porém, hoje por hoje, essa dedicação praticamente desapareceu. Mas uma força ainda resiste: Kilandukilu!

Mwanza Mukondolo*

A pandemia da Covid-19 está a afetar sobremaneira todos os setores da vida no país. Os artistas em geral, principalmente os que vivem de espetáculos, músicos, atores, bailarinos, entre outros, estão a viver momentos bastante críticos nas suas vidas. O seu ganha – pão está suspenso e muitos já têm que “mendigar” para poder sustentar as suas famílias.
A crise derivada da pandemia também não poupou o grupo Kilandukilu, a força da dança tradicional angolana e a maior referência no mercado nacional. Com rodagem e créditos firmados no mercado nacional e internacional, o coletivo tem sido o cartão de visita das danças folclóricas angolanas além-fronteiras, deixando em palco o cheiro e o traço da cultura nacional.
Recorde-se que o grupo tem mais de 30 anos de percurso na caminhada pela divulgação, valorização e preservação da dança tradicional, e tem apostado num sistema de formação, por via de oficinas, para garantir a continuidade e a excelência em termos de qualidade do trabalho apresentado ao público.
De Angola para o exterior do país, o grupo, considerado baluarte das raízes tradicionais no que à dança diz respeito, não vira costas ao seu projeto inicial e a sua aposta na dinamização da cultura, lutando, muitas vezes, contra a adversidade e os empecilhos.
Adequando-se a espetáculos de dança tradicional dos mais variados estilos, o Kilandukilu é consagrado hoje como “Ballet Tradicional”, fruto de longos anos de trabalho e também pela evolução que a dança tem vindo a registar. Ao som da ngoma (batuque), apitos, reco-reco e outros instrumentos tradicionais, leva ao palco uma viagem do passado ao presente, retratando o quotidiano das vilas angolanas e sobre as sociedades modernas, destacando o papel da intervenção social.
Numa sociedade onde a preferência vai para a vertente musical, facto comprovado com os apoios que os músicos recebem dos empresários para a realização de espetáculos e produção de discos, em contraste com o que se passa em outras modalidades, particularmente na dança, o Kilandukilu não dá tréguas e tem-se virado para um trabalho profundo de investigação, que o levou à conquista de vários troféus dentro e fora do país, chegando mesmo a não ter concorrência nos palcos africanos.
“Hoje e cada vez mais os apoios não existem. Embora exista mercado artístico para a dança, os espectáculos têm sido cada vez mais escassos e muitas vezes quando somos solicitados é sempre ou quase sempre como segundo plano”, disse Maneco Vieira Dias, director artístico do grupo e sua cara e coração.
A falta de salas, os custos elevados para a realização de shows, só para citar estes, são alguns dos fatores que muitas vezes inviabiliza vários projetos. “Resumindo, neste momento, o período não tem sido dos melhores, porque há cada vez menos incentivos para a prática desta modalidade artística, sem falar da crise que, tal como nos outros setores, também o setor cultural foi afetado. Ainda assim, pensamos que deveria haver um maior reconhecimento àqueles que, não obstante todas adversidades, vem se mantendo e produzindo um trabalho digno”, refere.
Orgulhoso com o trabalho desenvolvido, Maneco Vieira Dias adianta que a dança angolana (algumas delas) tem uma divulgação bastante considerável, podendo mesmo ser citado o exemplo da kizomba no mundo. Fruto da sua expansão, o grupo conta atualmente com dois núcleos, respetivamente, em Lisboa (Portugal) e no Uíge, que têm feito as delícias dos amantes das danças tradicionais e que resultam da aposta da pesquisa e na miscelânea entre a modernidade e o tradicional.

A origem

A palavra “Kilandukilu” significa divertimento, na língua nacional kimbundo, e nasceu como um pequeno grupo de jovens amantes da arte, em especial a dança e a música folclórica, no dia 15 de Março de 1984.
O coletivo tem como objetivos a pesquisa, recolha e estudos das manifestações culturais do povo angolano, dança folclórica de Angola, rituais fúnebres e guerreiros, bem como recreativas e de salão, sem esquecer a contemporânea africana e a música folclórica. O Ballet Kilandukilu nasceu no bairro Maculusso, em Luanda, com a designação inicial de Grupo Experimental de Dança Tradicional Kilandukilu.

Prémios e homenagens

Tem no seu currículo vários prémios e homenagens, com destaque para o 1º lugar no Festival Provincial para Trabalhadores, em 1984, Luanda, prémio Revelação, agraciado pela UNAC S.A. em 1996, e Cidade de Luanda, agraciado pelo Governo da Província de Luanda, Prémio Identidade em 1998, pela UNAC S.A- União Nacional dos Artistas e Compositores – Prémio referente ao melhor grupo, Melhor Ballet Tradicional de Dança Africana na VII Gala da Rádio Clube de Leiria/Portugal, em 1999.
Venceu ainda o 8º Festival Internacional de Dança e Música Folclórica em Roodepoort/África do Sul (1995), nesta ocasião foi considerado o melhor grupo Africano, Prémio de melhor grupo de dança tradicional angolana, na gala do 2º aniversário da Revista Tropical, Prémio Prestigio, em Lisboa Abril/2008, Embaixador do Cocan 2010, Troféu Carreira Moda Luanda 2010, Prémio Nacional de Cultura e Artes na disciplina de Dança 2011, outorgado pelo Governo angolano.
O grupo foi homenageado pelos Embaixadores Africanos por ocasião da gala em alusão ao 25 Maio de 2011, Dia de África, realizada em Abu Dhabi (EAU), Diploma de Mérito, pela Comissão Administrativa de Luanda 2014, por ocasião do 438º aniversário da cidade. Hoje o Kilandukilu está dividido em 3 num só, funcionando uma parte em Luanda, um núcleo no Uíge, denominado Nkembo Kilandukilu, e uma parte em Portugal. É caso para afirmar: É obra!!!

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