De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a atual pandemia irá custar um trilhão de dólares para a economia global, com as comunidades vulneráveis sendo as mais atingidasimpactadas, Por exemplo, quase metade dos empregos em África podem ser perdidos.
Sendo assim, especialistas estão divididos quando se trata da regulação ou proibição do vasto comércio de animais, com a maioria preocupada que os mais pobres serão os mais afetados, correndo o maior risco de uma recessão.
Amy Dickman, bióloga de conservação da Universidade de Oxford (Reino Unido), crê que uma ação urgente no comércio de animais silvestres é claramente necessária, mas disse que está “alarmada” com os pedidos de proibições indiscriminadas ao comércio de animais silvestres.
Ela é uma das 250 signatárias de uma carta aberta à Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao Programa das Nações Unidas para o Ambiente que pede que qualquer transição contribua – e não prejudique – os meios de subsistência das pessoas mais vulneráveis do mundo.
Outros signatários incluem representantes da Fundação Africana da Vida Selvagem, da Sociedade Zoológica de Frankfurt e da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza).
O ideal nem sempre é o que funciona
Infelizmente, muitas pessoas dependem de recursos selvagens para a sobrevivência. Os cientistas alertam que restrições indiscriminadas e simplistas podem exacerbar a pobreza e a desigualdade social, o que poderia ter o efeito contrário de acelerar a exploração e extinção de espécies na natureza.
“O Covid-19 está A infligir custos sociais e econômicos sem precedentes aos países e comunidades, com os mais pobres e vulneráveis sendo os mais atingidos. As suspeitas ligações do vírus com um ‘mercado vivo’ chinês levaram a pedidos para proibir esses mercados e restringir ou encerrar o comércio, uso medicinal e consumo de animais silvestres. No entanto, proibições e restrições indiscriminadas correm o risco de serem injustas e ineficazes”, escreveram os cientistas em sua carta aberta.
Dickman afirma que as pessoas gostam de apontar os dedos para os mercados porque tais banições não afetam as suas vidas diretamente, embora afetem os direitos de pessoas extremamente vulneráveis.
Há também preocupações sobre os impactos de uma proibição total a várias populações indígenas, como as tribos que vivem na região colombiana de Orinoquia e na Amazônia, que teriam os seus meios de subsistência “atacados”.
“A carne selvagem é muito importante para as pessoas da floresta, porque é uma das melhores maneiras de se obter proteína animal. Com esta questão da pobreza e das pessoas que vivem em áreas remotas, não é fácil para elas procurar boa carne. Às vezes, as pessoas tomam decisões porque estão sentadas num escritório e estão muito longe da realidade. Se eles conhecessem a nossa realidade, não tomariam essa (mesma) decisão”, disse Mama Mouamfon, que dirige uma ONG chamada Fundação Camaronesa da Terra Viva (Camarões).