O coronavírus, a nível mundial, está a ser motivo para muita gente trazer a público as suas teorias para possíveis curas da Covid-19. Por exemplo, a YouTuber e personal trainer Tracy Kiss, que se intitula uma “fisiculturista vegana natural”, recomenda armazenar e engolir esperma para combater o coronavírus. O que é estranho, pois o sêmen é, por definição, um produto animal.
Marcelo Ribeiro*
A fisiculturista argumenta que não adianta armazenar papel higiênico e ou álcool gel. O que pode ser bem mais útil de se guardar para tomar diariamente (em um drink ou em forma de gelo direto na boca) é esperma.
Ela aconselha que se armazene o sêmen congelado do seu parceiro fixo ou ocasional, contanto que ele seja saudável. Engolir sêmen, segundo ela, pode reduzir o estresse que prejudica a sua imunidade. Uma imunidade comprometida pode aumentar o risco de contrair coronavírus.
Ela aconselha, caso não seja possível tomar esperma, o consumo de vários vegetais que podem melhorar o sistema imune.
Engolir esperma é errado?
Talvez o choque causado pela recomendação venha do tabu de se falar abertamente de um ato tão privado que pode ser considerado “nojento” por algumas pessoas. Mas a realidade é que não há contra indicações no geral em engolir o sêmen do seu parceiro no ato sexual.
Apesar de haver casos de mulheres alérgicas a sêmen, eles são extremamente raros.
O sêmen traz benefícios para a saúde? De acordo com o livro “Sexo Antes de Tudo”, há evidências de que o sêmen pode ser benéfico para a saúde da mulher. Pesquisas do psicólogo Gordon Gallup apontam que mulheres que não usam camisinha têm riscos menores de depressão do que mulheres que usam, ou não são sexualmente ativas.
Os estudos também indicam que as mulheres podem ficar com uma “dependência química” do ânimo que recebem da testosterona, prostaglandina, estrogênio e diversos outros hormônios do sêmen. Estas substâncias circulam na corrente sanguínea após serem absorvidas pela parede do canal vaginal.
Um estudo controlado de 2003 indica que mulheres submetidas ao sêmen antes e depois da gravidez tem um risco menor de desenvolver preeclampsia. O sêmen também contem o hormônio melatonina, que controla ciclos do sono e talvez cause sonolência após o ato sexual.
É importante conversar com seu parceiro para se certificar que ele não possui nenhuma doença sexualmente transmissível antes de transar (ou fazer sexo oral) sem camisinha.
Ingerir sêmen não engravida. O sêmen ingerido passa normalmente pelo mesmo processo digestivo dos alimentos sem nenhuma chance de entrar em contato com o óvulo.
Na busca incessante por compreender o mundo, nem mesmo os fluidos humanos passam longe do olhar da ciência. Conheça a seguir oito usos inusitados (dois dos quais não têm exatamente aval científico) para o esperma humano
1 – Hidratante de pele
O fluido contém um antioxidante chamado espermina, que pode ser usado para suavizar rugas, deixar a pele mais macia e até mesmo combater acne. De olho nesse potencial cosmético, a empresa norueguesa Bioforskning sintetizou o composto e o colocou à venda como creme facial. Quem não se incomodar com a procedência do produto pode comprá-lo através de alguns sites.
2 – Ingrediente culinário
O cozinheiro Fotie Photenhauer elevou a um novo patamar a ideia de “pratos exóticos” no seu livro Natural Harvest (“Colheita Natural”), no qual compilou receitas preparadas com sêmen humano. Eis a descrição da obra (com alguns comentários nossos entre parentêsis):
“Sêmen não é apenas nutritivo, mas também tem uma textura maravilhosa e incríveis propriedades culinárias. Como bons vinhos [!] ou queijos [!!], o gosto do sêmen é complexo e dinâmico. Sêmen não é caro de se produzir [de fato] e é normalmente disponível em muitos lares e restaurantes. Apesar de todas essas qualidades positivas, o sêmen permanece negligenciado como alimento [por que será?]
“Assim que você superar a hesitação inicial, você irá se surpreender em aprender quão maravilhoso o sêmen é na cozinha. Sêmen é um ingrediente excitante que pode dar a cada prato que você fizer uma interessante reviravolta [especialmente se você contar o que usou]. Se você é um cozinheiro apaixonado e não tem medo de experimentar novos ingredientes, você vai amar este livro de cozinha!”.
3 – Pintura
O artista Martin Von Ostrowski se tornou conhecido por suas pinturas feitas com fluidos corporais (inclusive um retrato de Hitler pintado com fezes). Em 2008, o artista realizou uma exposição no Museu Gay de Berlim (Alemanha) com quadros pintados com sêmen. Levando em conta que cada quadro exigiria material de 40 ejaculações, a exposição provavelmente demandou que Von Ostrowski ejaculasse pelo menos mil vezes – a “tinta” era mantida congelada para não estragar.
4 – Tinta Invisível
Em um provável surto de criatividade, cientistas do Serviço Secreto de Inteligência Britânica descobriram que sêmen podia ser usado para produzir tinta invisível, que só se revela na presença de certos produtos químicos. As pesquisas foram realizadas na época da Primeira Guerra Mundial e seus resultados foram aproveitados durante o conflito.
5 – Antidepressivo para mulheres
A polêmica ideia motivou um estudo em 2002, que revelou que mulheres diretamente “expostas” a sêmen se mostravam menos deprimidas. Na época, os autores atribuíram esse efeito aos hormônios presentes no fluido.
“De fato, o sêmen possui um perfil químico complicado, contendo mais de 50 diferentes compostos (inclusive hormônios, neurotransmissores, endorfinas e imunosupressores), cada um com uma função especial e em concentrações diferentes no plasma seminal”, explica o psicólogo Jesse Bering.
Entre os elementos, estão cortisol (que aumenta afeição), estrona (que melhora o humor), prolactina (um antidepressivo natural), oxitocina (que também melhora o humor), melatonina (que induz sono) e serotonina (um dos mais conhecidos neurotransmissores antidepressivos).
6 – Controle de ovulação
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Saskatchewan (Canadá) descobriram que há no sêmen uma proteína capaz de induzir ovulação – a mesma responsável por regular o crescimento, a manutenção e a sobrevivência de células nervosas. É possível que essa proteína atue sobre o hipotálamo e a glândula pituitária do cérebro feminino, provocando a libertação de hormônios responsáveis pela ovulação.
7 – Combate ao enjoo matinal
Uma ideia defendida pelo psicólogo Gordon Gallup pode chocar algumas leitoras: ele sugere que mulheres grávidas sentem enjoo porque os seus corpos estão a rejeitar o material genético do esperma; assim, ingerir o fluido poderia gradualmente fortalecer a sua imunidade e reduzir os enjoos. O estudo foi apresentado este ano no encontro da Northeastern Evolutionary Psychology Society (EUA). Outra pesquisa, feita em 2000, mostrou que a prática de sexo oral pode ajudar a reduzir os riscos de pré-eclâmpsia em mulheres grávidas.
8 – Armazenamento de informação